sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Falar de militarismo é falar de fascismo, nacionalismo debiloide, Estado (governadores) acima de crianças, velhos, civis. Pra um militar uma estatua de pedra do seu governador tem mais vida que um homem. Quem defende essa merda com unhas e dentes é descedente dos mesmos que exterminaram judeus, escravizaram negros, crucificaram Cristo (se ele assim existiu), estriparam tiradentes, levaram pessoas a inquisição, mataram vários outros que se rebelaram contra os governos opressores,  dominaram regiões, expulsaram pessoas, estupraram mulheres. Os fascistas de hoje são playboys que estupram a empregada e depois obrigam-na a abortar, são os ricões que atropelam pessoas na rua. São os machões que publicam coisas racistas,,machistas e homofobicas no facebook, declaram guerra a esquerda. Sempre vão existir os tiranos, chefes e os militares, soldados, pra defende-los como se fossem cachorros adestrados, desprovidos de qualquer estimulo racional. Pega rex!
As regras para ser um militar, são:
Não ter sentimentos por pessoas que não sejam seus familiares.
Ser Sádico
Homofobico e machista.
Elitista
Estado, Patria , Familia a frente de tudo
Armas, guerras, pra invadir, roubar as riquezas dos outros e poder sustentar seu estado/familia. Mas são sempre os mocinhos. Se os que forem invadidos tentarem se proteger de forma violenta, violentos são, ou como popularizaram, são "terroristas"
Um militar é religioso. É preciso que tenha a prepotencia de acreditar que é filho de um deus. E que está acima de tudo. MILITARISMO FEDE

terça-feira, 6 de março de 2012

Coveiro. - conto

Coveiro.

E então que minha vida foi marcada por ficar jogando terra sobre terra, sobre pessoas, como se não tivessem valor algum, nem as conhecia, mas em sua maioria significavam algo para outras pessoas. Muito choro, o ápice da infelicidade para muitos, e eu, jogando terra. Ia escurecendo, terminava o serviço, retornava para casa, tomava um banho, bebia um copo de café, assistia um filme, e ia dormir para acordar cedo para o trabalho no dia seguinte. Tinha momentos que eu pensava que a humanidade estava em ruínas, penso nisso quando chego a enterrar mais de quatro cadáveres num único dia. Muitos eu fico sabendo que foram em decorrência de assassinatos. Menores de idade, vitimas do trafico, ou da violência das favelas e periferias. As mães desesperadas, chorando como se estivessem possuídas, não queriam aquele caminho para os seus filhos, lógico. Eu acho a vida do crime um ato de coragem, que eu como medroso não escolhi, tenho um trabalho torturante fisicamente e mentalmente, e sou um anônimo na sociedade.


No início não foi tão fácil, mas com o tempo fui me tornando indiferente, embora sempre tenha alguns casos que mecham comigo. Como de uma jovem de rosto apaixonante, com um futuro brilhante pela frente, estava fazendo alguma faculdade, não me lembro qual, e morreu atropelada. É angustiante também enterrar crianças e recém nascidos. O olhar de desolação dos pais me comove, eu não sei se agüentaria esse emprego por muito tempo. Por mais que tenha me tornado uma pessoa fria, sem quase nenhum amigo, e sem muita proximidade com meus familiares, que já faz anos que não os vejo. Por muitas vezes me senti vulnerável e com tendências suicidas. Por sorte encontrei uma pessoa, a Julia, não somos namorados, mas convivemos juntos. A conheci num dia em que ela foi visitar o tumulo do seu avô. Eu a consolei, modesta parte, sou um PhD quando o assunto é morte. Desde então ficamos muito amigos, e fomos nos aproximando cada vez mais. Ela era uma garota muito independente e morava sozinha, assim como eu. Depois que ela viu a minha casa em estado deplorável, me convidou para morar com ela, e vivemos juntos a mais de dois anos, eu ajudo pagando algumas contas, as pessoas pensam que temos um relacionamento, isso me incomoda um pouco. Eu acho ela linda e adoraria me casar com ela, mas nunca havia demonstrado isso. Quando enterro pessoas, não sinto nada, mas imagino como seria enterrar alguém que eu amo, como a Julia, ou até pior, um filho, por isso não quero construir uma família. Não na situação que está o mundo. Não quero também sentir ódio por um possível responsável pela morte dos que amo.

Lembro do dia em que minha mãe veio me visitar, quando eu ainda morava só. Ela disse que conseguirá, através de um amigo, um trabalho para mim, na área de administração, de uma grande empresa, e que eu não precisava mais do meu emprego como coveiro. O salário e as condições de trabalho eram muito melhores, mas eu recusei. Não me vejo de roupas sociais, numa sala com ar-condicionado, congelando-me, e preocupando-me sempre em atingir lucros. Gosto da terra, do cheiro de cadáver, gosto das emoções e da profundeza que é meu trabalho. Não conseguiria aprender coisas, que considero realmente uteis, numa sala de escritório. É uma pena, porque isso estraga qualquer chance minha com a Julia. Ela é engenheira, e pretende ir morar nos EUA em breve, outro motivo pelo qual eu não revelo meus sentimentos a ela.

Nos momentos de folga, gosto muito de jogar vídeo-game. Como a vida seria boa se tivéssemos outra chance, se pudéssemos resetar. Ou será que não? Me pergunto. Não me considero uma pessoa feliz, mas satisfeito, se tivesse uma chance de recomeçar de novo já séria outra pessoa. De um ato mínimo como dar bom dia a uma pessoa, até a destruição de um trauma, tanto faz, todas essas coisas pesam muito, podem nos transformar drasticamente. Quando tenho a sorte de minha folga coincidir com a da Julia, o que é muito difícil pois ela está sempre bastante ocupada, não só com trabalho como com estudos, saímos juntos, gosto de ir a praia com ela no final da tarde, ficamos sentados e conversando sobre nossas filosofias, ela sempre elogia minha maneira de enxergar o mundo, diz que um dia, serei alguém grandioso. Talvez pelo fato de ela ser a única pessoa que tenha me dito isso, e que não me veja como um anônimo sem credibilidade, que eu a ame tanto. No fundo precisamos do ego, de elogios, mesmo eu não gostando de cultivar meu orgulho, mas elogios nos fazem existir.



Nunca fui muito religioso, e após anos de trabalho como coveiro, deixei de lado qualquer crença, vi muitos partirem e seus familiares após engolir o choro falarem: “-Ele está no céu agora, com deus; - Deus tem algo reservado para ele”. Não conseguiria aceitar nunca a morte de uma pessoa querida, é verdade que este mundo é um inferno, uma tortura, os que morrem se livram disso. A crença na vida após a morte conforta as pessoas, elas acreditam que continuarão a existir, o que é ruim, pois não se dá a atenção , não gera uma revolta expressiva, aos que se foram pela fragilidade do sistema em que vivemos.

Semana passada estava chovendo, escorreguei na terra e cai em uma das covas que estava cavando. Apesar de não ter acontecido nada de grave, continuei deitado, ali dentro da cova, imaginando quando vai chegar a minha hora, será que alguém irá vim me visitar? A Julia provavelmente já estará morando nos EUA, quem restará? E se eu tivesse morrido naquele momento em que escorreguei? Os cristãos não percebem que a melhor glória que tem na morte é a destruição da consciência. Seria atordoante, para eu, morrer e está consciente que não consegui realizar as coisas com as quais eu sonhava. Eu ainda tenho esperança na humanidade, principalmente quando tinha dias que não enterrava ninguém. É um tanto quanto hilário como o fenômeno da existência é excessivamente valorizado pela raça humana, mas ressalvo, a existência para eles é respirar, sobreviver, fantasiando nas suas emoções pérfidas, seus entretenimentos fúteis, embalados e egocêntricos. Não à alegria o que existe é o que te vendem como sendo alegria, para você esquecer que está sendo um escravo. A humanidade tem vivido morta. Irônico também, é dar um valor ao nada, à morte. Vi muitos serem enterrados em túmulos belos, e receberem lindas flores nas visitas. Ainda tem os pobres que nem caixão têm, foram assassinados injustamente, e nunca iremos ver seus rostos nos telejornais, mas talvez não seja tão ruim quanto ter sua morte servindo de ibope a esses programas extremamente sensacionalistas que nunca resolvem nada.
Embora eu seja um sujeito anti social, queria muito que, não minha morte, mas minha vida fosse lembrada, queria que pessoas visitassem meu tumulo.
Por muitas vezes me odeio por não conseguir o que idealizo, as pessoas deveriam trabalhar pra que suas vidas não se tornassem meras lembranças mas se tornassem o futuro de outras pessoas, não é uma questão de glória, orgulho , mas contribuir para um mundo menos ruim para as gerações futuras. O que vejo é segregação, as pessoas têm vergonha ou são indiferentes quando a morte é de desconhecidos.


Anteontem eu cometi uma série de atos terríveis, era meia noite, quando eu estava violando uma cova de uma adolescente que havia sido enterrada por mim no dia anterior. Ela tinha cabelos longos, e me lembrava muito a Julia, o cheiro do cadáver estava horrível, mas nem isso me segurou. E então eu comecei a beijar aquele corpo, e penetrá-lo. Só que eu não imaginava que um vigia noturno estaria passando pelo cemitério. Ele viu a cena e ficou horrorizado, me chamou de louco e disse que iria me denunciar, eu fiquei um pouco nervoso, enquanto vestia minha calça, mandei ele se acalmar. Depois me aproximei dele e o golpeei na cabeça com minha pá, ele caiu com o rosto ensangüentado, mas ainda estava acordado e começou a me xingar, as coisas se complicaram, e então eu o golpeei mais três vezes. Foi o suficiente para que ele fosse a óbito. Começou a chover e ventar muito. Eu então enterrei o cadáver dele junto com o da adolescente. Fui para casa, a Julia viu minha roupa melada de sangue e terra, e perguntou espantada, o que havia acontecido. Eu desviei o meu olhar, e me dirige até o banheiro, sem falar uma palavra sequer. Enquanto estava no banho comecei a pensar em tudo que havia feito, e nas conseqüências que aquilo iria trazer, não demoraria até que alguém descobrisse. Não me sentia culpado por nada, o vigia não tinha que se importar com o que eu estava fazendo com aquela garota, ela não tinha mais nada, era só carne. Sai do banho, tremendo, e fui falar com Júlia, menti para ela sobre a parte da necrofilia, disse que tinha violado uma cova procurando objetos valiosos, e então o vigia apareceu. Ela me olhou com medo, mas ao ver meu estado de aflição, me abraçou forte, e disse que não iria me denunciar, e sabia que eu não era uma má pessoa. Comecei a chorar e a contar os sonhos que tinha de construir uma família com ela. Eu previa que meu fim estava próximo, por isso me declarei a ela, e ela disse que gostava muito de mim e nunca entendeu porque eu não havia tentado nada com ela, mas também disse que seria complicado daqui pra frente, que já estava certo sua ida para os EUA, e de inicio não teria condições de me levar junto. Enxuguei as lagrimas do meu rosto e a abracei-a muito forte, nos deitamos ficamos muitos minutos só se olhando nos olhos, depois começamos a fazer caricias um no outro, até chegar ao sexo. Depois de uma hora abraçados , vir-me-ei a ela e falei , que se eu morresse queria que ela tornasse meu espírito concreto após a morte, escrevesse a minha história. Ela ficou brava por eu ter dito isso, mas eu pedi novamente, disse que significava muito para mim, e ela falou que tudo bem.

No dia seguinte aconteceu o que eu prévia alguém tinha avistado o vigia sendo assassinado, e já haviam denunciado a policia. Ainda não sabiam que eu que o havia matado, nem onde ele estava enterrado, mas já estavam investigando,a procura de pistas. Interrogaram-me, e eu disse que estava em casa no horário do ocorrido, e não sabia de nada. Era questão de tempo até que descobrissem tudo. Então comecei a escrever esse texto, e coloquei sobre o travesseiro da cama da Julia, peguei uma corda e fui até o cemitério.

E então que, Alan Renato Ribeiro, foi encontrado morto, enforcado, pendurado numa corda, amarrada à uma árvore, no cemitério. Logo descobriram os crimes que ele havia cometido, a mídia o tratou como um psicopata, mas eu jamais o vi assim. Não queria que ele tivesse se matado, porém o Alan sempre valorizou muito a sua liberdade, e quando soube que seria preso, resolveu dar um fim na sua vida. Alan sempre quis se tornar eterno, ser alguém grande , e reconhecido na humanidade por coisas boas, ele ficou famoso da forma como não queria, para todos ele é um maníaco, um monstro. Mas eu sei que ele ficaria contente, ao saber que pelo menos para mim, Julia, ele foi uma pessoa muito especial, o que aprendi com ele foi eterno, assim como ele é.