terça-feira, 15 de novembro de 2011

Conto: Criando uma nova humanidade

Século XVII, Inglaterra, o júri estava por condenar à exilação vários indivíduos que consideravam perigosos, não só para a Grã-Bretanha como para toda à Europa. Tratavam-se desde ladrões de mercadorias e assassinos, a filósofos e políticos, que estavam se opondo de maneira muito radical à burguesia. Todos seriam então deportados para um único presídio,localizado ao sul da Espanha, que havia acabado de ser construído justamente para aprisionar os criminosos que estivessem num nível muito mais elevado que dos pequenos infratores, impedindo assim que os ensinassem a cometer atentados maiores ou os influenciassem a fazer rebeliões.


Todos então embarcaram num navio, quinze oficiais da coroa britânica, e os oito prisioneiros. Entre os prisioneiros tinha um grande filosofo iluminista de nome Caim; um anarquista chamado Anquevis; um comunista, o Gomero; Killery,um assassino de aluguel, acusado pela morte de várias pessoas. Os outros prisioneiros faziam parte de uma quadrilha especializada no roubo de várias mercadorias e arrombamentos. Um dos oficiais, era irmão por parte de pai do assassino, fato que não se tinha conhecimento por parte dos seus comandantes nem dos outros oficiais, eles conviveram boa parte de sua infância e adolescência juntos, e ele não acreditava nas acusações que caiam sobre os ombros de seu irmão, um rapaz que sempre lhe deu bons conselhos. Enquanto o navio já estava em alto mar à caminho da Espanha, o oficial aproxima-se da cela onde esta seu irmão e promete tira-lo dali. Mas vendo que assim que pisassem em solo espanhol seriam recebidos por mais oficiais e que a situação de seu irmão já não era passível de um novo julgamento, eles então começam a planejar uma estratégia que os tirassem dali. O oficial decide então contar o plano aos outros prisioneiros. Ele iria esperar pela madrugada que é quando tinha um maior numero de oficiais dormindo, e iria até a meia nau do navio, onde tinha armas reservas guardadas. Todos os prisioneiros estavam de acordo com o seu plano, e dele foi dado o voto de confiança aos prisioneiros, que pegou algumas armas e entregou-lhes. Os ladrões, especializados em arrombamentos, sabiam como sair daquelas celas do navio, arrombaram com grande facilidade e depois ajudaram os outros, não necessitando que o oficial se arriscasse a pegar as chaves do coronel que estava abordo.
A ação foi toda muito bem planejada, mataram os oficias que estavam sozinhos, de maneira silenciosa, usando facas, cortando-lhes à garganta, mas um do oficiais viu outro sendo executado, e acionou um alarme, já haviam sido mortos três oficiais até então, os outros logo vieram e foram recebidos com tiro. Talvez muito pelo fato da viagem desgastante, e quando finalmente repousavam num sono profundo foram acordados pelo alarme agudo da sirene,e sem estarem cientes de que os prisioneiros estariam armados com armas e fogo,sendo assim foram mortos facilmente. Apenas dois dos prisioneiros foram baleados, um dos integrantes da quadrilha e Caim, o filosofo. Mesmo com os graves ferimentos no ladrão, e em Caim, todos celebraram a morte dos oficiais, pegaram os suprimentos alimentícios e o vinho que tinha na embarcação e fizeram uma festa. Sem se preocupar com nada.

Ao nascer do sol, viram que seus problemas não tinham terminado, estavam livres no navio, mas não poderiam retornar à suas casas, pois seriam procurados e presos novamente. Gomero então sugeriu que desviassem o rumo do navio para o mais distante possível da Europa, e que deveriam procurar por alguma civilização que ainda não havia se tornado colônia européia. Era a única saída, não podiam ficar vivendo em alto mar no navio para sempre. Mas também a viajem até novas terras seria muito longa. Os suprimentos que tinham no navio eram para uma viagem relativamente curta da Grã-Bretanha à Espanha, e eles exaltados pela euforia da comemoração já haviam consumido 80% daqueles suprimentos. Preocupados, e sabendo que seria impossível economizar aquela pouca quantidade por tanto tempo de viagem, o assassino,Killery, então sugeriu praticar canibalismo com os cadáveres dos oficias, causando espanto de boa parte dos navegantes, principalmente de seu irmão, único oficial que restou no navio. Mas era a única saída, e então todos aceitaram, guardaram os corpos num lugar onde ficassem conservados, enquanto mutilavam um e o preparavam sem o menor remorso. Assim seguiram viagem, economizando o máximo possível de alimentos e água. Já havia sepassado um mês, os oficiais espanhóis achavam que havia ocorrido alguma tragédia com a embarcação e não deram importância, acharam até bom que aqueles criminosos poderiam esta todos mortos.


Os suprimentos já haviam acabado, e o ladrão que recebeu um tiro no confronto com os oficias, depois de resistir na cama por um bom tempo, já não suportou mais as dores e faleceu. Caim, que também recebera um tiro já não corria mais risco de vida, mas ficara paraplégico. Era um homem muito inteligente e forte, e não mostrou se abalar muito com isso. Nos longos e cansativos dias de viagem, eles se distraiam conversando, contando histórias de suas vidas e porque haviam parado ali.
Anquevis , o anarquista, como assim se definia, disse que havia plantado bombas em um banco, matando vários banqueiros, alem de ser o mentor de várias manifestações proletárias. Gomero logo se identificou com Anquevis, por ser um revolucionário que lutava contra a burguesia, mesmo assim não compreendeu o ato terrorista do anarquista. A quadrilha de ladrões, agora apenas três, falavam que eram operários de uma grande fábrica de tecelagem, mas que não entendiam porque trabalhavam por exaustivas treze horas, e não tinham conforto algum, enquanto os donos das indústrias eram fartos, felizes, e trabalhavam tão pouco. Formaram então a quadrilha, e afirmavam que suas vidas haviam melhorado muito, os lucros que obtinham eram repartidos sempre igualmente, e não havia um líder entre eles. Caim falou sobre sua infância, seu histórico acadêmico, os livros que havia publicado, ele era o mais velho entre aqueles prisioneiros, que eram todos muito jovens, com média de idade de 24 anos, Caim era o único que já caminhava para os cinqüenta, inclusive tinha seus livros admirados por Anquevis e Gomero. Os ladrões não eram muito cultos, mas eram bastante espertos. O Assassino, Killery, era bastante educado, calado algumas vezes, mas se dava bem com todos, e então ele confessou seus assassinatos, mais de quinze, seu irmão ficou muito espantado, e se sentiu enganado, porque havia libertado seu irmão, e todos, porque acreditava que Killery era inocente, como ele mesmo se dizia ser. Killery pediu a compreensão de seu irmão, e disse que um dia ele iria entender.

Finalmente eles há vistam terras, e desembarcam numa ilha, muito próxima ao continente africano. De grande diversidade natural, e aparentemente desabitada, tratam logo de colher frutos das várias plantações dali, e capturam alguns javalis, estavam com muita fome, no limite de suas resistências. Depois de recuperadas às energias, decidem explorar a ilha, para ver se ela era habitada. Não chegaram a ver a fundo, mas logo concluíram que eram os únicos humanos dali. Trataram rapidamente de construir cabanas na praia e caminhos levando até os rios que encontraram nas suas explorações. Sem predadores, e com muito alimento, a ilha foi definida como um paraíso, por Caim, mesmo ele já sendo impossibilitado de caminhar, tinha o apoio dos outros que sempre davam total ajuda a ele e o respeitavam muito.


Passou-se um mês, e os ladrões começaram a construir uma nova cabana, essa era muito bem ornamentada, era uma capela. Caim olhou com maus olhos para aquela idéia, mas não comentou nada a respeito, diferente de
Anquevis que protestou contra aquilo, o oficial ficou do lado dos ladrões, dizendo que estavam certos em erguer um “templo” para as orações, que deveriam agradecer e muito a Deus por terem fugido da prisão e terem sido abençoados por encontrar uma ilha tão bela. Anquevis usou todos os argumentos ateístas possíveis para se opor contra aquilo, e teve o apoio de Gomero, mesmo assim não o deram ouvido. Killery então falou que não via problema nos outros construírem aquilo, desde que não achassem que todos deveriam participar, e então, foi resolvido o problema, na conversa, democraticamente, assim como todas as discussões que eles tinham. Já tinha se passado 40 dias, e sem nenhuma briga entre os moradores da ilha, algo talvez inimaginável, considerando que se trata de humanos, e criminosos ainda por cima. As atividades em grupo distraiam a todos, mas eles ainda tinham que satisfazer seus instintos sexuais se masturbando ou com pederastia. Um dia, Gomero e um dos ladrões, foram flagrados, pelo oficial, fazendo sexo no meio do mato, o oficial logo foi falar aos outros moradores da ilha, que não deram importância alguma, exceto pelo os outros dois ladrões, que repudiavam aquilo, pararam de falar com o que era seu amigo e proibiram ele de ir na capela.

Já tinham se passado dois meses, e os moradores da ilha sentiam falta de muitas coisas. Mesmo tendo muita fartura e liberdade, eles queriam mudar algo. Alguns sentiam falta de suas famílias, outros dos seus sonhos de criar uma. Killery então convocou a todos e disse que iria embarcar para terras vizinhas, ele sabia que ali ao lado, não muito distante, tinha terras onde deveriam viver tribos, com mulheres, e que era necessário dar continuidade a existência dele. Gomero gostou muito da idéia, mas que foi questionada por Caim.
- Nós temos o paraíso aqui, podemos viver em paz, e livres até a chegada de nossas mortes. Vocês querem construir uma civilização como a que nos tratou como monstros?
Os outros falaram que ele estava exagerando, e que ele deveria se lembrar como aquela ilha era pacifica e democrática. Então que embarcaram, não todos, apenas cinco, Gomero, Killery,o oficial, e dois ladrões.

Não demorou muito, até que chegaram em novas terras, estavam no continente africano. Após andarem um pouco encontraram uma aldeia africana. Gomero disse que iria negociar com os nativos os javalis que eles haviam trazido da viagem por suas mulheres, não muito atraentes, mas que tinham o que eles queriam. Logo foi atirada uma lança, que passou de raspão por Killery, ele logo sacou sua arma e deu tiros em alguns nativos, puxou as mulheres mais novas pelos cabelos e falou para que os outros fizessem o mesmo, fizeram, com exceção de Gomero, que só observou aquela cena. Eles então levaram cerca de vinte e duas mulheres para a embarcação, e partiram de volta para a ilha que habitavam. No caminho da viagem Gomero não gostou nada das maneiras como ocorreram as coisas, e questionou o comportamento de seus amigos, mas foi xingado de pederasta pelos outros que já estupravam as mulheres que haviam sido seqüestradas.

Chegando à ilha, após dezessete dias fora, logo chamam todos e mostram os “presentes” que trouxeram. Sem muitas conversas, todos aqueles homens que já não conseguiam mais se conter, alguns até partindo para relações homossexuais, contrariando suas crenças, agarraram logo uma mulher, tinham muitas, mais de duas para cada, podiam escolher, trocar. Elas muito assustadas e sem entender a língua daqueles homens brancos, choravam. Até mesmo
Anquevis, um libertário feminista, se juntou aos outros abusando daquelas mulheres. Caim, que já não tinha mais movimentos abaixo da cintura ficou fora disso, e observou com um certo asco por ver a ferocidade dos seus amigos ao se depararem com as mulheres. Ele não era nenhum conservador, muito pelo contrario, também passava longe de ser um feminista, chegando a ser machista certas vezes mesmo que libertário, mas o machismo dele foi destruído depois daquele dia.

Depois da primeira semana com as mulheres africanas, a relação que eles tinham antes com elas, que era só de satisfação sexual, passou a mudar, criaram sentimentos, um já não fazia mais sexo com certas mulheres, meio que haviam escolhido as suas parceiras em definitivo, e os outros não poderiam tocar nas deles, nem vice-versa, foi um pacto que fizeram. Conseguiram ensinar seus idiomas para elas com o tempo. E logo já começava à aparecer as primeiras grávidas,e mais tarde as primeiras crianças da ilha. Mesmo tendo homens do ocidente, alguns até religiosos, muito dos pais estupravam suas filhas, e encaravam aquilo com normalidade, diferente de quando moravam no ocidente. As mães que vieram de tribos primitivas não gostavam nada daquilo. Só que nada nunca foi feito com relação a isso. Até que um ladrão transou com a filha de Killery, ele ficou sabendo, e tiveram uma briga feia logo depois. Nascia então a primeira briga daquela que era uma ilha totalmente pacifica. As coisas foram resolvidas, parcialmente, esqueceram a briga, mas pararam de se falar. Alguns dos homens já tinham uma família de cinco pessoas, como foi o caso de Killery, que já não se dava mais bem com outros homens da ilha, ou pelo que transou com sua filha, ou pelo filho mais velho de
Anquevis, que pegou sem pedir um javali que estava preso numa armadilha de caça de Killery, e comeu junto com seus outros irmãos. Killery então decide ir morar do outro lado da ilha, o lado norte, junto com sua família, se mudam para lá. Assim faz o seu irmão, o oficial, com a sua família, e os ladrões, vão para o outro lado da ilha, bastante distante dos outros que ficaram do lado Sul.

Ninguém deu muita importância para isso no inicio, acharam bom até, porque os filhos dos que estavam morando no lado norte, tinham uma educação diferente, das do que ficaram do lado sul, eram cristãos e um pouco conservadores. Gomero até havia sugerido a idéia de se criar uma escola para que todos tivessem a mesma educação, mas os moradores do lado norte tinham medo que seus filhos perdessem a identidade que haviam adquirido com os seus pais, e também a idéia da escola foi questionada por
Anquevis, que via que uma escola poderia ser mais um passo para a construção de um estado, como o que ele combatia no ocidente, ele era a favor da educação mas a achava inútil numa ilha sem leis, sem cultura, achava que os habitante dali só deveriam aprender a caçar e mais nada.


Às vezes os habitantes do lado norte viam os do lado sul, se cumprimentavam, mas não tinha mais nenhuma grande relação, até porque eram cada vez mais raros esse encontro, muitos já não se viam à meses, e depois de algum tempo chegaram a ficar anos sem se ver. O lado Norte, estava diferente, Killery, era um tipo de rei daquela parte, sua família e a de seu irmão oficial já havia se juntado com as dos dois ladrões, formando uma população de cento e dois habitantes. O Lado Norte que tinha
Anquevis, Gomero,Caim e um dos ladrões que não era mais aceito pelo seus amigos de quadrilha por ser homossexual e nem por Killery por ter feito sexo com um de seus filhos, tinha uma população bem menor que o lado norte, apenas sessenta pessoas. As coisas do lado sul não haviam mudado muito, continuava sem ter um governo, mas construíram uma escola, e demoliram a capela que tinha sido feita antigamente pelo os que hoje moram do lado norte.Os habitantes do lado sul tinham uma população menor muito em fato de Caim ser impossibilitado de gerar uma criança, mas o principal, é que todos daquele lado, sabiam que a ilha era pequena demais para habitar muitas pessoas, e isso poderia deixar os alimentos cada vez mais escassos. O lado norte não pensou nisso, e logo os animais e frutos daquela parte da ilha foram sumindo.


Killery, então, decide ir visitar o lado sul, cerca de trinta quilômetros afastava os dois lados, depois de vinte e sete anos sem contato com seus antigos amigos, foi muito bem recebido pelos habitantes de lá, e viu que eles tinham muito mais recursos que ele. A visita logo terminou e Killery ao voltar para o lado norte, começa a reunir seus homens e mulheres, avisando de uma invasão que irão fazer, à um lado inimigo. Os habitantes mais novos não sabem do que se trata esse inimigo, só ouvem falar coisas terríveis sobre eles, e as primeiras mães da ilha, que geraram as crianças do lado norte, foram mortas por Killery e seu irmão por estarem velhas e feias para gerar crianças, alem de não ajudarem na caça nem nas colheitas. Todos acreditam no seu líder, um senhor com o conhecimento de um mundo que eles não conhecem. Então se preparam para a invasão. Um dos ladrões mesmo depois de anos afastado dos seus amigos do lado sul, não gostou daquilo, e foi para o lado sul avisar aos habitantes de lá, da invasão que iria ocorrer. Todos ficaram com medo, a invasão iria acontecer na noite daquele dia , e eles não estavam tão preparados. E o ladrão observou que alem do numero de habitantes serem menor no lado sul, grande parte de sua população era formada por mulheres e crianças. Levavam uma grande desvantagem do lado norte que contava com vários homens maduros. Apressadamente eles decidem então colocar armadilhas no mato e deixar as mulheres e crianças abrigadas num lugar seguro, distante de suas casas. O lado norte então começa a invasão, o espantoso é que levaram para o combate as crianças e as mulheres, todos armados com lanças. Sabendo do sumiço do ladrão, Killery já sabia que ele já devia ter avisado para Caim e Cia da invasão que iria ter, e por isso mandava que as mulheres ou as crianças mais novas fossem na frente, para que caíssem nas armadilhas que possivelmente tinham nas florestas. Muitos foram mortos dessa forma. Mas o exercito de Killery ainda estava em grande vantagem. E então chegam ao litoral da ilha, onde travam o combate. Todos os homens do lado sul foram mortos. E mais tarde encontraram suas mulheres e crianças, mataram todos os deficientes, pois do lado norte os deficientes eram mortos logo quando nasciam, diferente do lado sul.

Logo a ilha voltou a se tornar uma só. Os que sobreviveram no lado sul, passaram a conviver junto com os que mataram suas famílias, não tinham direitos, e tinham os trabalhos mais pesados, para a satisfação da família de Killery.E também de Seu irmão, o ex-oficial militar no ocidente, que passou à entender porque Killery havia se tornado um assassino frio. Admirando-o por sua sabedoria.